Reinaldo Arenas
Dia 7 de Dezembro fez 15 anos da morte do escritor cubano "Reinaldo Arenas" que morreu em 1990, em "New York", vítima de Aids.
Encontrei um texto escrito em Março desse ano por "Mariana Della Barba" que nos dá uma boa introdução a sua vida, vamos a ele pois...
"...Um homem que ao chegar no final de sua vida conseguiu a extraordinária proeza de perdoar seus "amigos". Amigos que o entregaram à polícia de Fidel, que queimaram seus manuscritos logo após prometerem que o guardariam em um lugar seguro, que o ignoraram, o traíram, que viraram as costas (e a casaca) quando a situação apertou. "Não fiquei muito surpreso com o fato de Hiram Prado ter sido um delator; depois de viver tantos anos sob aquele regime, eu aprendera a entender como a condição humana vai se desaparecendo aos poucos entre os homens e o próprio ser humano acaba se deteriorando para sobreviver; a delação é algo que a imensa maioria dos cubanos pratica diariamente."
E um perdão como esse fica ainda mais sublime se pensarmos na vida de Arenas. Sem nunca ter conhecido o pai, cresceu com a mãe, avós e tias em "uma casa destrambelhada" no campo. Passava o dia pendurado em árvores, correndo pelos barrancos, se aventurando até a margem do rio. Fazia tudo isso, na maioria das vezes sozinho. Assim, para não se entediar, criava "uma série infinita de canções que [...] eu encenava pelos campos". A estranha cantoria teatral (sobre a qual afirma que só não as escrevia porque ainda não era alfabetizado) lhe proporcionava "uma estranha sensação de paz". Outro de seus passatempos favoritos era dar vazão à sua voracidade sexual. Éguas, galinhas, porcas, cães, árvores, seu tio Rigoberto... eram todos objetos de sua "pansexualidade" mesmo antes dos 10 anos de idade. Na adolescência, tinha várias namoradas, mas aos 13 gostava mesmo era de ir ao cinema com Carlos.
Aos 14, em 1958, ele não mais suportava a vida no vilarejo para o qual sua família havia mudado. Resolveu então juntar-se aos rebeldes de Fidel Castro, mas nunca chegou a ir a Sierra Maestra, já que sem uma arma não teria serventia para os revolucinários. Depois, ganhou uma bolsa para estudar economia agrícola e acabou indo para Havana. Na capital, ele venceu um concurso literário e como prêmio ganhou um emprego na Biblioteca Nacional, onde foi extremamente bem acolhido e se transformou no protégé de dois dos maiores escritores cubanos de todos os tempos, José Lezama Lima e Virgilio Piñera. Publicou diversos livros, principalmente na França e em outros países latinos. (Em Cuba, apenas um, até hoje.)
A partir daí, o proeminente escritor gay que havia conseguido contrabandear seus manuscritos e publicá-los fora da Ilha começou a ser perseguido sem trégua. Sem dinheiro, nem chances de trabalhar, sofreu privações de todos os graus. Foi proibido, por exemplo, de entrar no mar(!): "Por ordem do governo, só podiam ir à praia os trabalhadores sindicalizados com a mensalidade em dia. Como eu não possuía emprego, nem podia aproximar-me de nenhuma das praias, só me restava sentar no dique em frente ao mar." Seu fundo do poço, entretanto, levava o nome de El Morro, a mais cruel prisão do país. Enfrentou um escabroso caminho até chegar em solo americano. "E o que foi feito de mim? Depois de ter vivido 37 anos em Cuba, estou agora no exílio, padecendo de todas as desgraças dessa situação e esperando uma morte iminente. Por que tanta fúria contra todos nós que um dia quisemos romper com a tradição trivial e com a monotonia cotidina que têm caracterizado nossa Ilha?"
Mas seu vigor, sua perspicácia e suas crenças não se esmoreceram totalmente. Logo que chegou a Miami, declarou que "a diferença entre o sistema comunista e o capitalista é que, embora os dois nos dêem um chute na bunda, no sistema comunista a gente leva o chute e tem que bater palmas; no capitalista, a gente também leva, mas pode gritar. E vim aqui para gritar."
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