quinta-feira, dezembro 22, 2005

Samuel Beckett



"O essencial se tornou tão mínimo que o fortuito parece sem limites."

Morre aos 83 anos em 22.Dez.1989

Samuel Barclay Beckett nasceu no dia 13 de abril de 1906, no subúrbio de Foxrock, em Dublin, Irlanda. Beckett é considerado um dos cinco maiores escritores de seu país, ao lado de pilares como Oscar Wilde, James Joyce, George Bernard Shaw e William Butler Yeats. Mas o que mais surpreende em Beckett é seu enorme talento em todos os tipos de textos: ele escreveu crônicas, contos, poesias, peças de teatro, programas de televisão e sempre se destacou em todas as áreas.

Desde jovem, Samuel mostrou talento para escrever. Aos 17 anos, se formou na Portora Royal School, com distinção acadêmica e também em esportes, notadamente em críquete e no boxe, uma de suas paixões e que praticou de forma amadora.

Aos 21 anos, em 1927, se graduou em primeiro lugar em Literatura Moderna na Trinity College, em Dublin, onde estudou italiano e francês.

Em 1928, mudou-se para Paris, onde foi lecionar inglês na Ecole Normale Supérieure de Paris, onde trabalhou até 1930. Nessa época conhece o seu conterrâneo e já consagrado escritor James Joyce, que havia publicado “Ulysses”, em 1922. Nesses dois anos publica um ensaio intitulado “Joyce”, uma pequena novela, “Assumption” e um poema, “Whoroscope”.

Em 1930 volta a lecionar na escola onde havia se formado, Trinity, mas a abandona no ano seguinte, sem dar justificativa. É dessa época o estudo crítico sobre Marcel Proust, “Proust”.

No ano seguinte, resolve fixar residência em Paris, e compõe sua primeira novela, “Dream of Fair to Middling Women”, que só seria publicado postumamente, em 1993. Muitas dessas estórias seriam reescritas e aproveitadas no livro “More Pricks Than Kicks”.

Em 1933, Samuel resolve voltar para Dublin, ao saber da morte de seu pai e para cuidar de sua mãe. Durante os próximos quatro anos faria terapia em Londres e faria seguidas viagens até a Alemanha para estudos. Volta para Paris em 1938, fixando residência permanente. Dois acontecimentos marcaram sua vida de forma dramática: é agredido por um estranho e recebe uma facada no peito, que lhe deixaria gravemente ferido. Em compensação, conheceria Suzanne Deschevaux-Dusmenoil, com quem viveria o resto da vida e se casaria em 1961.

Durante os anos de 1940 até 1945, Samuel, ao lado de Suzanne, seria um membro ativo da Resistência Francesa contra a Alemanha nazista liderada por Adolf Hitler. Em 1942, é descoberto pelos alemães e obrigado a fugir para a vila de Roussillon, em Vichy, onde ficaria até o final da Segunda Guerra. Lá escreve boa parte da novela “Watt” e acaba condecorado com a Cruz de Guerra, pelo governo provisório da França, após o final da mesma, pela sua participação na Resistência.

Durante esses anos, Samuel Beckett começa a escrever em francês, já que não encontrava uma editora na Inglaterra para publicar seus escritos.
Em 1946, Beckett volta para Paris e começa um período extremamente profícuo. Após várias tentativas, passa a escrever somente em francês e produz os contos “First Love”, “The Expelled”, “The Calmative” e “The End”, além do romance “Mercier and Camier”, “Molloy, Malone Dies and The Unnamable”, “The Texts for Nothing” e “Waiting for Godot”. E Beckett começa a escrever tanto em inglês quanto em francês, traduzindo simultaneamente um texto de uma língua para outra. Em 1949, publica “Three Dialogues” e em 1950 “Death of mother”.

“Molloy Malone Dies” sai em 1951; “Wating for Godot”, “Watt” e “The Unnamable”, em 1953. “Stories e Texts for Nothing”, são lançados em 1955.

Em 1957 lança “Endgame”; em 1958 “Krapp’s Last Tape”.

Em 1964 é convidado para dirigir seu próprio roteiro de “Film”, com Buster Keaton, em Nova York. Em 1967, publica “The Lost Ones” e em 1969 recebe o maior prêmio de sua vida, o Nobel de Literatura.

Em 1970, sai “First Love” e “Mercier and Camier”. Em 1972, é a vez da peça “Not I”. Em 1977, faz um texto para a televisão “...but the clouds...”, fato que se repetiria em 1982, com “Quad”. Entre 1980 e 1986 publica mais três livros: “Company” (1980), Ill Seen Ill Said (1981) e Stirrings Still. Em 1988, escreve um livro de poemas, “What is the World”.

Em 1989, vê sua companheira Suzanne, falecer no dia 17 de julho. Cinco meses depois, no dia 22 de dezembro, é a vez do próprio Samuel, aos 83, descansar, após três anos de luta contra um enfisema. Ele é cremado, junto com Suzanne no Cemitério de Monteparnasse, perto de sua residência em Paris. Em 1993, é finalmente publicado seu primeiro trabalho, “Dream of Fair to Middling Women”. Esse texto foi um dos primeiros a utilizar monólogos interiores. Beckett dizia que os “monólogos são palavras que não fazem trabalho algum e nem querem”. Conhecido por seu distanciamento em relação a seus personagens, Beckett dizia que nem sempre o narrador em primeira pessoa precisa ser coerente e claro. Ele acreditava que, se fizesse um narrador confuso e que mesmo contando sua própria história não teria certeza do que estava falando, criaria com mais realismo as dificuldades de comunicação do homem moderno. Essa tensão é achada em vários textos seus, particularmente em “Molloy”.

Com um modo peculiar de narrar uma história ou um acontecimento, real ou fictício, Samuel Beckett conseguiu adentrar em um paralelo em que talvez, apenas seu conterrâneo James Joyce permaneceu: a arte de explicar e confundir e de usar pessoas para expor idéias nem sempre compreendidas, mas universais.

(Texto "Rubens Leme da Costa")

dica: A famosa trilogia "Molloy", "Marrone está a morrer" e "O inominável"... se conseguires.


THE END