quinta-feira, dezembro 22, 2005

Nelson Rodrigues


"Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico."



Morre aos 68 anos em 22.Dez.1980.


Nasceu da cidade do Recife, em 23 de agosto de 1912, quinto filho do casal Maria Esther Falcão e o jornalista Mário Rodrigues dos quatorze que vieram ao mundo. Mudam-se para o Rio de Janeiro por questões políticas envolvendo seu pai. Em 1920 Nelson ganha um concurso de redação escolar com uma história de adultério, o que teria chocado todo o corpo docente da escola. Nesse período, Nelson presenciou grandes discussões entre seus pais, causadas por ciúmes que seu genitor tinha de sua mãe.

Nelson inicia sua carreira jornalística em 29 de dezembro de 1925, como repórter de polícia, ganhando trinta mil réis por mês. Tinha treze anos e meio, era alto, magro e seus cabelos eram indomáveis. Embora fosse filho do patrão, teve que comprar calças compridas para impor respeito aos colegas de redação. Tanto o autor como seus irmãos mais velhos trabalhavam no jornal A Manhã: Milton era o secretário, Roberto ilustrava algumas reportagens, Mário Filho começou como gerente, indo depois para a página literária e depois a de esportes.
Nelson havia abandonado desde 1927 a terceira série do ginásio no Curso Normal de Preparatórios. Nunca mais voltou à escola, apesar do esforço desenvolvido por seu pai. O jornal, mal administrado e cheio de dívidas, passa as mãos do sócio de seu pai, Antônio Faustino Porto, que oferece o emprego de diretor a Mário. Este aceita, mas fica só um dia. A intervenção do novo dono em seus artigos faz com que ele e a família deixem o jornal. Amigo de Melo Viana, vice-presidente da República, no dia em que completava 43 anos, 21 de novembro de 1928, e apenas 49 dias depois de perder A Manhã, Mário Rodrigues lançou seu novo jornal de grande sucesso: Crítica, que chegou a ter uma circulação de 130.000 exemplares.

Em 26 de dezembro de 1929 o jornal estampa matéria, na primeira página, sobre o desquite de Sylvia e José Thibau Jr. Foi a formula encontrada para o diário não sair sem assunto, já que era o primeiro dia após o natal. No dia 27, pela manhã, Sylvia entra na redação da Crítica procurando por Mário Rodrigues. Não o encontrando, pede para falar com seu filho Roberto e dá-lhe um tiro no estomago. Nelson viu e ouviu aquilo tudo. Com dezessete anos e quatro meses, era a primeira cena de violência brutal que presenciava. Seu irmão faleceu no dia 29. Todos começam a procurar emprego, coisa que para eles não estava nada fácil. Foram meses batendo em portas fechadas. Começaram a vender tudo o que tinham para poder sobreviver e, devido ao aluguel sempre atrasado, eram obrigados a mudar de casa a cada três meses. Até que um dia uma porta se abriu para Mário Filho e os outros irmãos penetraram por ela. Roberto Marinho o convidara para dirigir as páginas esportivas do recém fundado O Globo.
No meio do ano de 1941 escreveu sua primeira peça, A mulher sem pecado que só entraria em cartaz mais de um ano depois com fracasso de público e relativo, mas satisfatório, sucesso da crítica. Em janeiro de 1943 Nelson escreve sua segunda peça teatral: Vestido de Noiva. Falou então com um polonês recém-chegado ao Brasil: Zbigniew Ziembinski que adorou a peça e lançou mão de todo seu empenho para realiza-la.

Nelson convidado por Freddy Chateaubriand foi para seu novo emprego nos "Diários Associados": diretor de redação das revistas Detetive e de O Guri. Como a função lhe tomava pouco tempo, o autor ficava perambulando pela redação da revista O Cruzeiro, que era no mesmo andar. Sempre procurando fazer "bicos" que permitissem um ganho extra - continuava a ajudar sua mãe financeiramente - soube que Chateaubriand estava querendo comprar um folhetim francês ou americano para O Jornal, que estava com uma tiragem de apenas 3.000 exemplares por dia e sem anúncios. Nelson ofereceu-se para escrever o folhetim. Dai nasceu Suzana Flag e Meu destino é pecar. Cada episódio tomava uma página inteira de O Jornal e tinha uma ilustração de Enrico Bianco. Foram 38 capítulos que elevaram a tiragem do jornal para quase trinta mil exemplares.

Apesar de estar ganhando um extra por capítulo, o autor não gostava que soubessem que escrevia com pseudônimo feminino. Quando a história terminou, o sucesso foi tão grande que foi lançado um livro pelas Edições O Cruzeiro. Calcula-se que a venda tenha ultrapassado a trezentos mil livros. Isso provocou o começo de outro folhetim, Escravas do amor, cujo sucesso foi também retumbante. Em 1950 o autor dá adeus a Freddy Chateaubriand e aos "Diários Associados" e fica esperando convites de outros jornais.

Samuel Wainer, dono do jornal Última Hora que contrata Nelson tinha algo em comum com o escritor: a tuberculose. Propõe ao autor que escreva, com pagamento extra, uma coluna diária sobre um fato real. Poderia se chamar "Atire a primeira pedra". Nelson sugeriu "A vida como ela é..." e, sugestão aceita, foi para a máquina escrever a primeira coluna. O sucesso foi estrondoso. Em 1951 relançou Suzana Flag em "O homem proibido".

Em 08 de junho de 1953 estréia no Teatro Municipal do Rio a peça "A falecida". Chamada de "tragédia carioca" era, na verdade, uma comédia. Foi escrita em 26 dias. "Perdoa-me por me traíres" teve, também, problemas de liberação com a censura, em 1957 - sofreu cortes. Depois de ser renegada por muitas atrizes, "Toda nudez será castigada" estréia no dia 21 de junho de 1965 e é um sucesso. Os artistas são aplaudidos em cena aberta, os ingressos são avidamente disputados e fica em cartaz por seis meses no Teatro Serrador e em excursão pelo Brasil.
De volta ao jornal "O Globo" passa a publicar "À sombra das chuteiras imortais" e "As confissões", cada uma patrocinada por um banco. Como recebia uma comissão por esses patrocínios (mais que o dobro de seu salário), estabilizou sua situação financeira.
1970 marca o início dos anos duros da ditadura militar no Brasil. Nelson, conhecido e admirado pelos militares, luta para tirar da prisão Hélio Pellegrino e Zuenir Ventura e, depois, seu filho Nelsinho.

Nelson Rodrigues faleceu na manhã do dia 21 de dezembro de 1980, um domingo. No fim da tarde daquele dia ele faria treze pontos na loteria esportiva, num "bolo" com seu irmão Augusto e alguns amigos de "O Globo".

THE END