'EnCantos de Maldoror'
"Sua curta vida transcorre na primeira metade do século dezenove, e dela só podemos ter certeza pela existência de uma certidão de nascimento em Montevidéu, em 1809, de sua morte, em Paris, 24 anos depois, além de seus Cantos – mínimos poemas e cartas. Depois, é como se o destino de Isidore Ducasse fosse tragado pela existência cada vez mais poderosa de sua criatura, o Conde de Lautréamont, o narrador dos Cantos de Maldoror. Como se fora um personagem dos próprios Cantos-Contos, seu corpo desaparece misteriosamente na transferência de seu túmulo, sabe-se lá para onde. A segunda morte de Isidore Ducasse vai abrir espaço para a assunção, nos céus da literatura, do Conde de Lautréamont – que terá a vida eterna assegurada pela paixão de um Antonin Artaud, de André Breton ou de um Octavio Paz que, com a linguagem de um Maldoror, dirá: "O astro negro de Lautréamont preside o destino de nossos maiores poetas".
Como Arthur Rimbaud, Artaud ou Bréton, o Conde é um dos signos da aventura literária – um inventor, na insuperada classificação de Ezra Pound. Mais do que outros personagens criadores da literatura contemporânea, Lautréamont (ou Ducasse? ou Maldoror?) dilui em termos absolutos a sua existência no plano da literatura. Seu livro é um jogo da amarelinha de construções e estruturas literárias. Um brinquedo nas mãos de um rapazinho que cultiva – no universo simbólico – tudo o que lhe parece mais inadequado aos bons costumes, - à ordem, à moral - acenando para o leitor com a idéia de que adora o éter, a beladona, e o sexo "anormal", compondo odes aos pederastas, e desafiando, ardorosamente, Deus e suas criaturas, principalmente o homem."
por Marcos Faerman
160 anos do nascimento de 'Ducasse' (4.Abril.1846) e mais...
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