quarta-feira, maio 03, 2006

24 anos sem 'Bangs'

"Olha, idiotas, sou tão bom quanto qualquer um que trabalhe aí. Então se vocês não publicarem este texto, pelo menos me dêem um motivo."

Assim Lester Bangs explicou, em entrevista, como começou a escrever sobre rock, para a "Rolling Stone", em 1969. O texto era uma crítica de "Kick Out the Jams", lendário disco do MC5. Todo mundo falou bem do álbum, menos Bangs. Iniciava ali a carreira do mais influente, imitado e odiado crítico de rock.
Nascido em Escondido (Califórnia), Leslie Conway Bangs morreu em 30 de Abril de 1982, aos 33, de causas desconhecidas --o laudo que o classificava como "vítima de overdose de medicamentos" fora considerado mais tarde "apressado".

A "Rolling Stone" foi quem primeiro deu espaço a Bangs --mas ele seria demitido da revista pelo editor Jann Wenner em 1973 porque seus textos seriam "desrespeitosos aos artistas". Da Califórnia, mudou-se para Detroit e, por último, Nova York.

Ele adorava tanto Blondie, Patti Smith, Iggy Pop quanto o jazzista Charlie Mingus, mas mergulhava na vida e obra desses artistas de forma tão profundamente apaixonada que formulava brigas homéricas com alguns deles, especialmente Lou Reed. Bangs mostrou que um crítico musical, antes de crítico musical, é um fã.

Participou de bandas medíocres de rock, gravou com o Clash, foi personagem do filme "Almoust Famous", de Cameron Crowe --interpretado por Philip Seymour Hoffman--, citado em "It's the End of the World as We Know It" (R.E.M.) e "It's Not My Place" (Ramones). Lester Bangs não se colocava em posição superior, mas seus textos eram, muitas vezes, mais interessantes do que o assunto do qual falavam.

Basta uma passada de olho em "Astral Weeks" (aqui), artigo escrito em 1979 sobre o álbum homônimo de Van Morrison, ("Astral Weeks" trabalha não com fatos, mas com verdades. Até onde pode ser definido, é um disco sobre pessoas aturdidas pela vida, (...) atoladas em seus corpos, suas idades e egos, paralisadas pela enormidade daquilo que, num vislumbre, elas conseguem compreender"). Ou em "How to Be a Rock Critic" (aqui), uma sarcástica espetada no esquematismo e pedantismo de alguns críticos da época. (Por 'Thiago Ney')

Seu método básico de lidar com os rockstars, segundo ele, era fazer, logo de cara, a pergunta mais ofensiva que podia formular. A prática fica clara numa entrevista com 'Lou Reed' em que Lester, após beber uísque no gargalo e “mastigar valiums como se fossem jujubas”, chega até a mesa de Reed e dispara coisas do tipo: “O que eu e milhões de fãs do mundo inteiro queremos saber sobre Bowie é: primeiro você, depois Jagger, depois Iggy. Que diabos ele tem?”.

THE END