"Tenho a fortuna fiel e a fortuna perdida. Uma assim como a rosa, a outra assim como espinho. Não me prejudicou o roubo que sofri. Tenho a fortuna fiel e a fortuna perdida. E estou rica de púrpura e de melancolia. Como é amada a rosa, como é amante o espinho! Tal num duplo contorno frutas gêmeas unidas, tenho a fortuna fiel e a fortuna perdida. Dois Anjos Não é um anjo apenas que me afeiçoa e guia. Como embalam as duas orlas ao mar, embalam-me o anjo que traz o gozo e o que traz a agonia; o que tem asas voantes e o que tem asas fixas. Eu sei, quando amanhece, qual vai reger-me o dia, se o anjo cor de chama, se o anjo cor de cinza. E dou-me a eles como alga às ondas, contrita. Voaram uma só vez com asas unidas: foi o dia do amor, o da epifania. Fundiram-se numa asa as asas inimigas e apertaram o nó que junta à morte a vida." (Riqueza)
Grande poetisa, educadora e diplomata chilena, Gabriela Mistral, nasceu Lucila Godoy Alcayga em Vicunã em 7 de abril de 1889, só vindo a adotar o nome Gabriela em 1914, resultado da justaposição de dois grandes nomes da literatura universal Gabrielle D'Annunzio e Fredéric Mistral.
Excetuando o fato de ter sido a primeira latino-americana a ser laureada com o Prêmio Nobel de Literatura em 1945, teve uma vida pontuada por tragédias: desde o abandono pelo pai aos três anos de idade, passando pelo suicídio do primeiro marido e do sobrinho querido, até por nunca ter podido ser mãe.
Apesar de ter ingressado cedo no mundo das letras, colaborando com o jornal "Coquimbo", no Chile, em 1904, sua primeira obra publicada foi "Tres Sonetos a la Muerte", em 1914, que foi premiada naquele mesmo ano nos Jogos Florais de Santiago. Com o sucesso de poemas como Oración, em 1923, foi publicado seu primeiro livro de poesias ("Desolación").
O mesmo ano marcou o início da exposição de sua obra mundo afora, ao receber convite do governo do México para elaborar o plano de reforma educacional desse país, assim como a organização e fundação de bibliotecas populares.
A partir de então a escritora passou a gozar de reconhecimento em vários países, atuando junto à Liga das Nações, em Genebra, Suíça, e em diversas instituições de ensino superior na Europa e na América Latina.
Gabriela Mistral foi cônsul no Brasil no anos 40 e viveu em Petrópolis, período marcado pela dor da perda de seu sobrinho, a quem chamava de filho. Nesse mesmo ano, suicidaram-se um amigo, o escritor Stephan Zweig, e sua esposa.
Ela soube, entretanto, transformar as tragédias de sua vida pessoal em poesia, oferecendo amor maternal e espiritual, compaixão e coragem para seus leitores. O tema central de sua obra é o amor maternal, carregado de religiosidade. Nomeada cônsul, um ano antes de sua morte, ela doou o legado de sua obra publicada na América do Sul a uma instituição de caridade no Chile. Gabriela Mistral morreu em um hospital em Nova Iorque a 10 de janeiro de 1957.
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