sábado, agosto 19, 2006

'Todas as coisas têm o seu mistério, e a poesia é o mistério de todas as coisas' - Lorca


Aos 38 anos de idade o poeta e dramaturgo - também músico e desenhista, "Federico Garcia Lorca" era preso pelas milícias facistas do ditador espanhol 'Franco' por ser "mais perigoso com a caneta do que os outros com o revólver".
No dia 19 de Agosto de 1936, 'Lorca' era assassinado com um tiro na cabeça, na região de 'Vizcar' (Granada), e seu corpo jamais encontrado. Uma das primeiras vítimas da insana e sangrenta Guerra Civil Espanhola.
Passados 70 anos de sua morte, comprova-se que 'Lorca' é a maior força poética da Espanha no Século XX.

Um ano antes do fatídico, 'Lorca' escreveu o que para muitos é a maior elegia em língua espanhola, 'Pranto Por Ignacio Sánchez Mejías', sobre a morte de um dos mais famosos toureiros espanhóis morto em 1934 em decorrência de uma chifrada de touro. 'Sánchez' Era amigo de 'Lorca' e também poeta, romancista e ator (Na foto velando outro toreiro, o famoso 'Gallito' em 1920).

Às cinco horas da tarde.

Eram cinco da tarde em ponto.

Um menino trouxe o lençol branco

às cinco horas da tarde.

Um cesto de cal já prevenida

às cinco horas da tarde.

O mais era morte e apenas morte

às cinco horas da tarde.

O vento arrebatou os algodões

às cinco horas da tarde.

E o óxido semeou cristal e níquel

às cinco horas da tarde.

Já pelejam a pomba e o leopardo

às cinco horas da tarde.

E uma coxa por um chifre destruída

às cinco horas da tarde.

Os sons já começaram do bordão

às cinco horas da tarde.

As campanas de arsênico e a fumaça

às cinco horas da tarde.

Pelas esquinas grupos de silêncio

às cinco horas da tarde.

E o touro todo coração ao alto

às cinco horas da tarde.

Quando o suor de neve foi chegando

às cinco horas da tarde,

quando de iodo se cobriu a praça

às cinco horas da tarde,

a morte botou ovos na ferida

às cinco horas da tarde.

Às cinco horas da tarde.

Às cinco em ponto da tarde.

Um ataúde com rodas é a cama

às cinco horas da tarde.

Ossos e flautas soam-lhe ao ouvido

às cinco horas da tarde.

Por sua frente o touro já mugia

às cinco horas da tarde.

O quarto se irisava de agonia

às cinco horas da tarde.

A gangrena de longe já se acerca

às cinco horas da tarde.

Trompa de lis pelas virilhas verdes

às cinco horas da tarde.

As feridas queimavam como sóis

às cinco horas da tarde,

e as pessoas quebravam as janelas

às cinco horas da tarde.

Ai que terríveis cinco horas da tarde!

Eram as cinco em todos os relógios!

Eram cinco horas da tarde em sombra!

(Trecho)


...Existe um conterrâneo de 'Lorca', o espanhol 'Daniel Fernández' que aos 7 anos de idade mudou-se para a França com seus pais que o incentivaram no seu interesse pela música.

Em 1981, se apresentando em bares por 'Lyon' e 'Toulouse', foi descoberto por seu estilo direto e sua voz particularíssima (ouça trechos de Maestro e Dos Gardenias). Em 1987 decide mudar seu nome para "Nilda Fernández" e se projeta com seu primeiro hit 'Madrid, Madrid'; mas somente em 91 com seu debut, aclamado pela crítica, que via no jovem trovador um cantor de potencial, com letras poéticas repletas de melancolia, cantadas em espanhol, francês e inglês, o que fez arrebanhar um público ainda maior, é que seu nome de fato tornou-se conhecido.

Fascinado pela obra de 'Lorca', que o inspirou não apenas em diversas canções, como em shows feitos à semelhança de 'La Barraca', a famosa troupe de teatro espanhola que viajava pela Espanha em 1935. 'Nilda' resolveu fazer um Tributo ao poeta chamado 'Castelar 704' (número do quarto de hotel que 'Lorca' se hospedou em Buenos Aires entre Out/33 e Mar/34). O Tributo lançado em 94 traz um coleção de poemas de 'Lorca' musicados por 'Nilda'.


THE END