quinta-feira, agosto 31, 2006

Listen To The Lion



Hoje o leão irlandês "George Ivan Morrison", ou Grande "Van Morrison" completa 61 anos (Belfast, 31.Ago.45).

Entre 1964 e 1965 fez 'Gloria' com o grupo inglês 'Them'... E em 67 lançava seu primeiro álbum solo 'Blowin' your mine'. Lançava modo de dizer. Quando o disco saiu, Van estava em turnê e nem sabia que seu empresário, o famoso 'Bert Berns' (produtor do 'Them' e compositor de grandes músicas; sua última foi 'Piece of my Heart', gravada por 'Erma Franklyn' ainda em 67 e em seguida pela 'Janis Joplin') havia decidido jogar no mercado as músicas que ele gravara em duas sessões em New York, uma em Março, quando saiu o single 'Brown Eyed Girl', e a outra em Novembro. É dessas sessões que surge a poderosa 'T.B.Sheets' em que narra uma visita a um amigo enfermo de tuberculose e é uma composição extraordinária. Com o falecimento de 'Berns' em Dezembro/67 , 'Van Morrison' assumiu de vez seus projetos que hoje já passam de 40 obras em mais de 40 anos de história.

Violão, guitarra, teclados, harmônica, saxofone... e uma voz, que como disse o crítico 'Greil Marcus', 'nenhum homem branco canta como Van Morrison'.

Sem o fantasma de 'Berns' por perto, não deu outra, Van lança em Novembro/68 o clássico (e todos os superlativos encontrados) 'Astral Weeks'. Maduro, muitos o chamam de álbum 'impressionista', talvez na relação da busca e mistura de sombras, luzes. Enfim, uma obra única, que não chega a ser um disco conceitual mas é como se todo o disco fosse uma longa canção. Van sabia que havia feito o álbum mais importante de sua vida, mas nos idos de 68, com tanta coisa boa sendo criada, demorou pra 'Astral Weeks' se transformar nessa unanimidade. Sendo assim, pé na estrada, ou, no estúdio...

Se por um lado 'Astral' trazia um lado mais de improviso, de experimentalismo, misterioso mesmo, 'Moondance', lançado em Março/70, vinha mais arranjado, mais ensaiado. Se o anterior era mais calcado no folk e no blues, esse trazia mais presente as inspirações de R&B, da Soul Music. Impecável em ambos é a extensão vocal de Van e sua desenvoltura como cantor.

A despeito de 'Van Morrison' ser uma pessoa mais reclusa e estar vivendo uma fase mais relaxada em sua vida, lança outro álbum no final de 1970, 'His Band And The Street Choir', na mesma linha do anterior, com toques de 'Fats Domino' (a faixa 'Domino' abre o disco) e 'Otis Redding'.

'Tupelo Honey', quinto trabalho de Van, lançado em Novembro/71, concilia bem todos os outros e apresenta alguns elementos da música Country e os violões ganham destaque.

Quebrando um pouco essa 'certa' homogeneidade dos seus três últimos álbuns, em Julho/72 'Morrison' lança 'Saint Dominic's Preview', embebido na turbulência de um casamento chegando ao seu término. E aqui ele vem com uma canção que remete às improvisações do 'Astral', a bela 'Listen To The Lion'; e é justamente aqui, nesse poder que Van tem de criar uma tensão na sessão rítmica e na sua forma de colocar sua potente voz, que a marca maior desse artista se faz presente.

Em Julho/73 é a vez do disco 'Hard Nose The Highway', trazendo um pouco de Jazz e de música Folk Irlandesa tradicional, além de se utilizar de novas técnicas de produão, utilizando coros e 'Big Band'. Foi no ano de 73 também que a aclamada turnê se transformou no primeiro duplo/ao vivo, 'It's Too Late To Stop Now', com um Van soberbo em interpretações iluminadas (Into the Mystic), hits do 'Them' (Gloria) e seis versões para clássicos do R&B/Soul, ao lado da banda 'Caledonia Soul Orchestra' (11 músicos), criada por Van para essa excursão.

Próximo rugido?...

'Veedon Fleece'.

Desolado com o divórcio, Van compõe uma obra dilacerante. Alguns até o consideram um 'Astral Weeks Revisited', por algumas similaridades como a utilização de instrumentos acústicos, os compassos jazzísticos, a sessão de cordas... O que difere mais provavelmente seja na liberdade expressiva que 'Astral' possui, com a precisão adquirida nos estúdios e as influencias mais diversas entre as músicas de 'Veedon' que é um dos álbuns mais ambiciosos, ecléticos e inpiradores. Assim como 'Astral' igualmente passou despercebido e Van se retirou de cena por dois anos e meio.

Lamentável o disco 'Veedon Fleece' não ter ido para os palcos. No ano de 1974 Van apareceu muito pouco e no Festival de Knebworth , em que se apresentaram também 'Tim Buckley', 'Mahavishnu', 'Allman Brothers', etc, ele apresentou apenas uma única canção, 'Bulbs' e repetiria o feito no Festival de Montreaux.

Agora sim cheguei aonde eu queria, 'num' vai dar para falar dos outros trinta e tantos tesouros, mas queria lembrar que o 'Van - The Man' está com algumas datas de Setembro nos 'States' e lançando em Outubro um DVD com duas apresentações no Festival de Montreux, (entre tantas outras, inclusive este ano), 'Live At Montreux 1974/1980' traz justamente essas duas apresentações. Um presentaço de nível.


O blog Chocoreve nos dá um outro presente colocando alguns bootlegs do Van como 'Live at the Roxy - 78', 'No Stone Unturned' (com out-takes de 68 a 74), 'Werchter - 83', e 'Rocks His Gypsy Soul' .


Crazy Love (Live)
Gypsy

terça-feira, agosto 29, 2006

Curtas

...O clássico álbum 'Berlin' de "Lou Reed", seu terceiro solo após sua saída do 'Velvet Underground' e o sucessor do antológico 'Transformer', lançado no ano de 1973 e que fala do vício e adeptos das 'Drugs', e que nunca foi tocado ao vivo, agora, passados mais de 30 anos, ganhará apresentações com direito a encenação teatral e participação de convidados como o de 'Antony' (And The Johnsons) em Dezembro, em 'New York'.

Lou Reed - Sad Song


...O "Portishead" continua a trabalhar no terceiro álbum de estúdio desde 'P', de 97. Correu boatos de que a banda havia disponibilizado em seu 'My Space' novas músicas, mas o desmentido veio com o esclarecimento de que as faixas são experiências, o que para mim não deixam de ser 'Novas'. Ouça!


...Nossa "Marisa Monte" continua a divulgar seus novos trabalhos 'Infinito Particular' e 'Universo Ao Meu Redor', dessa vez em Portugal em 5 apresentações no mês de Setembro e já adianta a segunda etapa de sua turnê brasileira com shows programados para Janeiro/2007 em Fortaleza, Natal, Recife, Salvador, Maceió e Aracajú. E em Fevereiro/2007 a vez de Vitória e Belo Horizonte. No site 'Disco Digital' ela concede uma entrevista em que fala: "No futuro as pessoas nem vão fazer álbuns. Talvez estes sejam os últimos álbuns que estou a fazer. Daqui a três ou quatro anos as pessoas vão ouvir só músicas pela Internet. Estamos a viver uma grande transformação nessa área. Sempre gostei muito de ser criativa não só com as músicas mas também com a indústria mesmo. Como lidar com os media. Com o mercado. A música é mais importante do que tudo isso. Se tenho material para fazer dois discos (27 músicas), não tenho nenhum motivo para não fazer. Não sigo padrão. O que é bom para mim não é necessariamente bom para todos. A música está em primeiríssimo plano na minha relação com o público. A música é uma deusa muito boa. Se você achar que é maior que ela (a música)….ela pode mostrar que não é (risos)". Leia mais Aqui .

quarta-feira, agosto 23, 2006

90 Anos... Avec Le Temps

"Léo Ferré est incontestablement un écrivain majeur de notre époque. Est également un musicien talentueux."*

A grande força desse homem é de ter praticado, com igual desenvoltura, a escrita literária, a composição musical e a interpretação.
Nascido em 24 de Agosto de 1916 em Mônaco, aos 14 anos já descobria a palavra 'Anarquia' enquanto o século avançava duma guerra a outra.
Com o pensamento completamente livre e seu verbo absolutamente violento, sem concessões, inicia-se nos porões de Paris recitando poesias. Autodidata, estuda teoria da composição ensinado por 'Leonid Sabaniev' (imigrante russo). Nos anos 50 registra seu 1º disco e começa um longo entrosamento com programas radiofônicos. E nos famosos anos 60 marca o encontro com um trio que perduraria por 15 anos, ao lado de 'Maurice Frot' e 'Paul Kscastanier' (morto em 91 aos 56 anos). É dessa época sucessos como 'Y'en A Marre', 'Thank You Satan', 'Paname' e 'Pépée' (música dedicada a seu chipanzé de estimação).
Anos 70 'Léo Ferré' sofre uma campanha de infâmia por suas letras excessivamente fortes. Em 71 canta com o grupo 'Zoo', um meio termo entre ópera e o Rap atual. Consagra ainda os poetas, 'Rimbaud' num disco, dois a 'Baudelaire', um a 'Paul Verlaine', um a 'Louis Aragon' e outro a 'Apollinaire'.
A partir de 1982 passa a produzir e realizar seus próprios discos.
Desafeto para muitos, 'Léo Ferré' pode sim ser considerado como um dos grandes poetas franceses do século XX. Sua poesia atacava a todos, ao Papa em 'Monsieur Tout Blanc', aos Maoístas em 'Salute Beatniks' e em pleno Maio/68 grava o hino 'Les Anarchistes'.
Se era um revoltado, talvez a impressão se deva por ter sido ele um poeta, compositor do pensamento libertário.
Deixou-nos em pleno dia da França, 14 de Julho de 1993, aos 77 anos.

"Léo Ferré est un poète musicien ou un musicien poète, et la maîtrise parfaite de ces deux modes d'expression marque profondément sa création."* (Robert Hoville)

Talvez uma das canções mais queridas de 'Léo Ferré' seja a comovente 'Avec Le Temps', lançada em 73 no álbum 'La Vie D'artist', e regravada por diversos artistas e dos mais distintos, como 'Salif Keita'; a portuguesa 'Cristina Branco'; 'Josette Kalifa'... E a canadense 'Renée Claude' que gravou um álbum duplo em 94 inteiramente dedicado a 'Léo Ferré'. E, sinceramente, uma obra notável, 'Renée Claude chante Léo Ferré'.

Infelizmente o Brasil nunca descobriu esse grande artista, talvez um dos poucos a regravar (quem mais?) foi o escritor 'Paulo Freire' no disco 'Vida de Artista' com participações de 'Ná Ozzeti', 'Mônica Salmaso'... Taí, a 'Ná Ozzeti' bem que poderia fazer um tributo, ou quiça 'Cyda Moreira'? Talvez se não estivessem tão presas aos seus estilos, 'Elba Ramalho' ou 'Maria Bethânia' fariam bonito. Na voz masculina o sempre íntegro 'Ney Matogrosso'. Mas...

Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va.
(Com o tempo... com o tempo tudo se vai)

Aqui uma pequena amostra de canções de 'Léo'.

...Alors vraiment

Avec le temps on n'aime plus.
(Então, realmente, com o tempo não se ama mais)

Okonokos (?)

Devo engrossar a lista de quem acha o grupo "My Morning Jacket" um dos melhores que a América já gerou.
Quando em 2004 o grupo viu dois de seus membros originais e amigos deixarem a banda pelo eterno dilema das Tours exaustivas, o 'My Morning Jacket' não deixou se abalar e logo recrutou novos membros e gravou um álbum vigoroso, mais diversificado do que os anteriores e até se aproveitando de ritmos não tão usuais por eles (Reggae? Sintetizadores?), 'Z' (05).
Passados 7 anos do 1º disco 'The Tennessee Fire' (99), o grupo lança dia 26/Setembro um duplo/ao vivo, 'Okonokos', gravado ano passado justamente durante a tour do 'Z'.
Se não bastasse (o duplão é contagiante, difícil parar de ouví-lo), dia 31/Outubro sai o DVD, aí é só delirar com a presença de palco vibrante de 'Jim James' , e sua voz repleta de emoção, - com um timbre pra 'Neil Young' - e toda a sua turma.
Sorte dos europeus que prestigiam neste mês, e no próximo, a tour da banda que hoje se apresenta em Manchester, Inglaterra.

Uma palhinha do vídeo:
My Morning Jacket - Long Okonokos Footage (Windows)

E umas músicas:
Bermuda Highway (Acoustic Citsuoca EP version)
E via 'Sweet Oblivion', ao vivo, Junho/2005
Golden
Don Dante
Off The Record

this and that...

Pode ate parecer ser um novo nome 'num' mar de tantos... mas o 'Acid House Kings' já está na estrada cerca de 15 anos, desde 1991; desde que 'Joakim' se uniu aos irmãos 'Nikas' e 'Johan' e influenciados pelos sons dos anos 60 e produções do 'Phil Spector', resolveram alegrar a fria Suécia. E como já disseram, para traduzir o som deles, os 'Mammas & Pappas' cantando temas dos 'Kings Of Covenience' . Em 2002 , para a gravação do 4º álbum, a voz feminina de 'Julia' passou a fazer parte do grupo. O quarteto 'Acid House Kings' mês passado fez uma mini-tour nos 'States' divulgando seu disco de 2005 'Sing Along With Acid House Kings'.

Do what you wanna do
Sunday morning
This and that

Aqui consegue-se Download do show do dia 10/Julho em 'Cambridge' (com direito a cover para 'Summer Nights' dos tempos de 'Grease')


Uma passeada pelo selo 'Twentyseven Records' pode-se ouvir algumas faixas do novo EP. (Aproveite para conhecer também a doçura do som desses dois rapazes do 'Ivy League').

Ivy League - London Bridges
Ivy League - June

terça-feira, agosto 22, 2006

Temp(l)o Glauber


Sintra, 26 de abril de 1981. “Aqui é bonito. Escrevo diante de uma panavisão sobre o Atlântico camoniano e sebastianista do alto de uma montanha antes habitada por Byron numa linda casa onde viveu Ferreira de Castro... O romancista João Ubaldo Ribeiro está hospedado aqui com a Berenice grávida... As coisas vão bem, estou feliz no meu feudo à beira mar plantado vendo todos os dias naves partindo na construção do IV Império de Sebastião Ressuscitado...”

Poema do Amor

Tudo talvez se defina
na conspiração
da poesya e
da infecção,
estou no começo da vida
mas não sei se a saúde resiste
o mundo profetiza guerra global

e corta o mistério da existência
nos projetando nos braços vitais
revolucionando o prazer, essência.
Junho, 1981.



25 anos sem Glauber Rocha - 14.Março.1938 / 22.Agosto.1981



''Mais do que um artista ou um cineasta, Glauber foi um grande pensador a seu modo, um pensador-poeta, com um método metafórico e uma disciplina revolucionária que inventava a cada dia conforme as necessidades de seu projeto, de suas iluminações. 'Acreditar sem limite nessas iluminações foi o grande ensinamento da vida e da obra de Glauber - o que nos permite dizer que ele pode não ter mudado o Brasil, mas este país nunca mais será visto da mesma maneira depois de sua existência. É como se Glauber tivesse inventado um país que o Brasil não pára de plagiar'' - Cacá Diegues -


''a personalidade de Glauber iluminou e obscureceu a percepção de sua arte'': Seu legado estético é inseparável de sua lenda pessoal. E ele, desde cedo na Bahia, sabia que, para fazer cinema relevante no Brasil, era preciso inventar uma pessoa em si mesmo, uma pessoa que se pusesse acima das limitações que ser do Brasil representa. (...) Não só sinto saudades dele: diante de cada situação que se apresenta, me pergunto: cosa farebbe Glauber?'' - Caetano Veloso - (JB)

...Ajuste o horário no TEMPO GLAUBER

sábado, agosto 19, 2006

'Todas as coisas têm o seu mistério, e a poesia é o mistério de todas as coisas' - Lorca


Aos 38 anos de idade o poeta e dramaturgo - também músico e desenhista, "Federico Garcia Lorca" era preso pelas milícias facistas do ditador espanhol 'Franco' por ser "mais perigoso com a caneta do que os outros com o revólver".
No dia 19 de Agosto de 1936, 'Lorca' era assassinado com um tiro na cabeça, na região de 'Vizcar' (Granada), e seu corpo jamais encontrado. Uma das primeiras vítimas da insana e sangrenta Guerra Civil Espanhola.
Passados 70 anos de sua morte, comprova-se que 'Lorca' é a maior força poética da Espanha no Século XX.

Um ano antes do fatídico, 'Lorca' escreveu o que para muitos é a maior elegia em língua espanhola, 'Pranto Por Ignacio Sánchez Mejías', sobre a morte de um dos mais famosos toureiros espanhóis morto em 1934 em decorrência de uma chifrada de touro. 'Sánchez' Era amigo de 'Lorca' e também poeta, romancista e ator (Na foto velando outro toreiro, o famoso 'Gallito' em 1920).

Às cinco horas da tarde.

Eram cinco da tarde em ponto.

Um menino trouxe o lençol branco

às cinco horas da tarde.

Um cesto de cal já prevenida

às cinco horas da tarde.

O mais era morte e apenas morte

às cinco horas da tarde.

O vento arrebatou os algodões

às cinco horas da tarde.

E o óxido semeou cristal e níquel

às cinco horas da tarde.

Já pelejam a pomba e o leopardo

às cinco horas da tarde.

E uma coxa por um chifre destruída

às cinco horas da tarde.

Os sons já começaram do bordão

às cinco horas da tarde.

As campanas de arsênico e a fumaça

às cinco horas da tarde.

Pelas esquinas grupos de silêncio

às cinco horas da tarde.

E o touro todo coração ao alto

às cinco horas da tarde.

Quando o suor de neve foi chegando

às cinco horas da tarde,

quando de iodo se cobriu a praça

às cinco horas da tarde,

a morte botou ovos na ferida

às cinco horas da tarde.

Às cinco horas da tarde.

Às cinco em ponto da tarde.

Um ataúde com rodas é a cama

às cinco horas da tarde.

Ossos e flautas soam-lhe ao ouvido

às cinco horas da tarde.

Por sua frente o touro já mugia

às cinco horas da tarde.

O quarto se irisava de agonia

às cinco horas da tarde.

A gangrena de longe já se acerca

às cinco horas da tarde.

Trompa de lis pelas virilhas verdes

às cinco horas da tarde.

As feridas queimavam como sóis

às cinco horas da tarde,

e as pessoas quebravam as janelas

às cinco horas da tarde.

Ai que terríveis cinco horas da tarde!

Eram as cinco em todos os relógios!

Eram cinco horas da tarde em sombra!

(Trecho)


...Existe um conterrâneo de 'Lorca', o espanhol 'Daniel Fernández' que aos 7 anos de idade mudou-se para a França com seus pais que o incentivaram no seu interesse pela música.

Em 1981, se apresentando em bares por 'Lyon' e 'Toulouse', foi descoberto por seu estilo direto e sua voz particularíssima (ouça trechos de Maestro e Dos Gardenias). Em 1987 decide mudar seu nome para "Nilda Fernández" e se projeta com seu primeiro hit 'Madrid, Madrid'; mas somente em 91 com seu debut, aclamado pela crítica, que via no jovem trovador um cantor de potencial, com letras poéticas repletas de melancolia, cantadas em espanhol, francês e inglês, o que fez arrebanhar um público ainda maior, é que seu nome de fato tornou-se conhecido.

Fascinado pela obra de 'Lorca', que o inspirou não apenas em diversas canções, como em shows feitos à semelhança de 'La Barraca', a famosa troupe de teatro espanhola que viajava pela Espanha em 1935. 'Nilda' resolveu fazer um Tributo ao poeta chamado 'Castelar 704' (número do quarto de hotel que 'Lorca' se hospedou em Buenos Aires entre Out/33 e Mar/34). O Tributo lançado em 94 traz um coleção de poemas de 'Lorca' musicados por 'Nilda'.


quinta-feira, agosto 17, 2006

19 Anos Sem 'Drummond'

... No dia 5 de agosto morre a mulher que mais amou, sua amiga, confidente e filha 'Maria Julieta'. Desolado, 'Carlos Drummond de Andrade' pede a sua cardiologista que lhe receite um “infarto fulminante”. Apenas doze dias depois, em 17 de agosto de 1987, Drummond morre numa clínica em Botafogo, no Rio de Janeiro, de mãos dadas com 'Lygia Fernandes', sua namorada com quem manteve um romance paralelo ao casamento e que durou 35 anos.


"Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente."

(Mãos Dadas)



Aqui dá para ouvir 'Mãos Dadas' e outras poesias na voz de 'Drummond'.

quarta-feira, agosto 16, 2006

Forever Young

"Bob Dylan" começou cantando em grupos de Rock, imitando 'Little Richards' e 'Buddy Holly' até entrar para a Universidade de Mineápolis em 1959, quando voltou-se para a música Folk, impressionado com a obra musical do lendário cantor 'Woody Guthrie', a quem o visitou em Nova Iorque em 61. Em Setembro do mesmo ano recebe ótimas críticas do 'NYTimes' por suas perfomances no 'Gerde Folk City' (onde encontrou-se pela primeira vez com "Joan Baez"), e grava uma participação tocando harmônica no disco da cantora 'Carolyn Hester', então casada com 'Richard Fariña', e um dos principais nomes da cena na época. Nessa sessão o produtor 'John H. Hammond' fez o convite para 'Dylan' assinar contrato com a Columbia e em duas curtas tardes de 20 e 22 de Novembro ele havia gravado 17 canções (apenas duas de sua autoria) das quais 13 formariam seu 1º disco, 'Bob Dylan' (Março/62).
Com o segundo, 'The Freewheelin' Bob Dylan' (que traz na capa ele com sua namorada da época 'Suzie Rotolo'), ele estabelece a posição de compositor de primeira linha, marcando uma nova direção na composição moderna com 'Blowin in the Wind', 'Masters of War', 'A Hard Rain's a Gonna Fall' e 'Don't Think Twice'... Lançado em Maio/63, 'Dylan' passou a aparecer mais em público, inclusive sua primeira apresentação em Rede nacional no programa do 'Ed Sullivan Show', na CBS. Apresentou-se ainda com 'Joan Baez' no 'Monterey Folk Festival' e dias depois no 'Newport Folk Festival', quando iniciaram o namoro.
Em Agosto/1963 'Dylan' entra no estúdio para gravar seu 3º disco, 'The Times They Are-A Changin' (Janeiro/64), só concluindo-o em Outubro devido a uma breve turnê como convidado de 'Joan Baez'.

De certa forma foi 'Joan Baez', celebrada como a rainha do movimento Folk, que impulsionou a carreira de 'Dylan' na América e internacionalmente, não só gravando inúmeras canções dele em seus álbuns, como levando-o a se apresentar em seus shows.
Um bom momento registrado é o 'Forest Hills' de 17 de Agosto de 1963, quando 'Dylan' toca 'Blowin in the Wind' e uma música mais humorada, composta pelos dois e nunca gravada, 'Troubled and I Don't Know Why'.

Dá pra fazer o Download desse show, ainda que a última faixa esteja incompleta - nada que uma busca na net 'num' sane o problema -, aqui:

'Joan Baez and Dylan - Forest Hills, August 17, 1963'



Mais de 4 décadas depois... 'Joan Baez' continua na ativa, seu último trabalho de estúdio foi 'Dark Chords on a Big Guitar' (03) e seu último álbum lançado foi o ao vivo 'Bowery Songs' (05), gravado de uma perfomance em NY, 2004. Agora em Outubro inicia uma turnê por 20 cidades norte-americanas.

Já o 'Bob' está lançando dia 29/Agosto seu mais novo trabalho em 5 anos, 'Modern Times' e fazendo shows; amanhã se apresenta em 'Augusta-GA', 'States'.



Robert Leroy Johnson

08.Maio.1911 - 16.Agosto.1938
Robert Johnson - Ramblin' On My Mind





Elvis Aaron Presley

08.Janeiro.1935 - 16.Agosto.1977
Elvis Presley - Suspicious Minds






Nusrat Fateh Ali Khan نصرت فتح علی خان

13.Outubro.1948 - 16.Agosto.1997
Nusrat Fateh Ali Khan & Michael Brook - sweet pain

Mustt Mustt (Massive Attack Remix)

Tere Hundiya Sundiya Mehbooba

(...) "De facto, se olharmos para a notável carreira de 'Nusrat Fateh Ali Khan', chegamos à conclusão que este "quarto tenor" espalhou pelo mundo as mensagens do Islão e do Sufismo, impregnadas de amor e devoção, afecto e tranquilidade. Algumas das matérias base dos poemas que interpreta, muitos deles escritos há mais de 500 anos.

Venerado como um semi Deus no Paquistão, NFAK cedo foi descoberto no Ocidente por Peter Gabriel. O seu nome é sinónimo de metáforas que demonstram ligações indissociáveis entre Ocidente e Oriente, tradição e modernidade, sagrado e profano, por culpa das suas múltiplas experiências com músicos de áreas tão diversas como o rock, o trip hop, a dança e o experimentalismo.

Os seus trabalhos com Michael Brook, Massive Attack, Eddie Vedder, Bally Sagoo e Peter Gabriel, apesar de levarem as mensagens dos Sufis para fora do seu ambiente, foram responsáveis pelo surgir de inimigos no seio da comunidade de músicos qawwali (música de devoção dos Sufis), que sentiram a sua cultura contaminada.

A sua exemplar técnica vocal, plena de improviso em múltiplas inflexões, foi provavelmente melhor compreendida no Ocidente. Entre os inúmeros fãs de NFAK, Jeff Buckey foi aquele que melhor descreveu e interiorizou o sentimento de escutar um disco daquele que é considerado por muitos o Pavarotti asiático. Vale a pena ler as palavras de Jeff publicadas na compilação de NFAK "The Supreme Collection Vol 1", editada pela Caroline Records dez dias depois da morte deste carismático paquistanês. Disco que viria a ser dedicado à memória de Jeff Buckey que morreu afogado, a 29 de Maio de 97, cerca de três meses antes do coração de NFAK ter batido pela última vez.

Jeff contava-nos que "a primeira vez que ouvi Nusrat Fateh Ali Khan estava em Harlem, em 1990. Eu e o meu companheiro de quarto ouvíamos música em volume muito alto. Nessa altura andávamos imersos no toque da maré ondulante dos ritmos sombrios de tablas do Punjab, espicaçados pelo sincronizado bater de palmas que irrompia de cima e de baixo num ritmo rígido e perfeito. (…) De repente escutámos uma, depois dez vozes pairando no ar como se tratasse de um bando de gansos ascendendo ao céu em formação. Finalmente a voz de NFAK. Parte Buda, parte demónio, parte anjo louco… a sua voz era suave e escaldante, simplesmente incomparável. A mistura do improviso na arte clássica do 'qawwali', combinado com o seu estilo audacioso e a sua sensibilidade, transporta-o para uma categoria só sua, acima de todos os outros que se movem na sua área… Para os verdadeiros qawwalis todos os significados na música existem simultaneamente e não há necessidade de um dogma religioso. Há apenas a peregrinação em direcção à luz que procuramos no fundo do coração, que é a casa de Deus. Existe apenas a pura devoção e um feroz virtuosismo para ganhar asas e planar através da música. De dar um beijo nos olhos de Alá e cantar o seu olhar de amor pelos homens."
(Crônicas da Terra)

Aqui uma entrevista feita por 'Jeff Buckley' a 'Nusrat' em Janeiro/96.

E Aqui texto de 'Jeff' escrito em 97 sobre o músico Paquistanês.

Bela Lugosi's Dead



50 Anos Sem 'Béla Ferenc Dezső Blaskó', "Bela Lugosi".

20.Outubro.1882 - 16.Agosto.1956


Bauhaus - Bela Lugosi's Dead
Nouvelle Vague - Bela Lugosi's Dead

terça-feira, agosto 15, 2006

37 Anos


WOODSTOCK 69

I came upon a child of God
He was walking along the road
And I asked him where are you going
And this he told me
I'm going on down to Yasgur's Farm
I'm going to join in a rock 'n' roll band
I'm going to camp out on the land

I'm going to try an' get my soul free

We are stardust
We are golden

And we've got to get ourselves
Back to the garden

Then can I walk beside
you
I have come here to lose the smog
And I feel to be a cog in something turning
Well maybe it is just the time of year
Or maybe it's the time of man
I don't know who I am
But you know life is for learning

We are stardust
We are golden
And we've got to get ourselves
Back to the garden

By the time we got to Woodstock
We were half a million strong
And everywhere there was song and celebration
And I dreamed I saw the bombers
Riding shotgun in the sky

And they were turning into butterflies
Above our nation

We are stardust

Billion year old carbon
We are golden
Caught in the devil's bargain

And we've got to get ourselves
back to the garden

(Woodstock
by Joni Mitchell)


Curtas...


...Uma década após surgir com 'Dreamlands' (96), "Madeleine Peyroux" lança dia 12/Setembro 'Half The Perfect World', seu 3º álbum, o sucessor de 'Careless Love' (04). Dessa vez a discípula de 'Ella/Billie' empresta sua bela voz para covers de 'Leonard Cohen' (Blue Alert), 'Tom Waits' (Looking for-The Heart of Saturday Night), 'Serge Gainsbourg' (La Javanaise), 'Chaplin' (Smile) e 'Fred Neil' (Everybody's Talking). Recebe ainda como convidada 'K.D.Lang' para um duo na também cover 'River' de 'Joni Mitchell'.
'Madeleine', co-escreveu 4 canções, sendo 'I'm Allright' o 1º single.

"California Rain"


...Já escrevi antes, mas faço novamente: o álbum 'Nineteeneighties' de 'Grant Lee Phillips', com covers de 'figuras' dos anos 80 é 'sublime'. Não dá nem para escolher uma. Mas as versões para 'The Eternal' do 'Joy Division', de 'So Central Rain (I'm Sorry) do REM e 'Last Night I Dreamed That Somebody Loved Me' de 'Morrissey'...


..."Joshua Radin" é recomendável para quem aprecia o estilo de 'Elliot Smith', 'Sufjan Stevens' e similares. Após dois lançamentos independentes e caseiros, lançou pela Columbia 'We Were here', que merece 'umas ouvidas'.

"Closer"


...Essa é bacana: Ao que indica, alguns garotos franceses conseguiram gravar 'precariamente' um ensaio de 'Bono Vox' & Cia numa casa de praia na França. Ainda que não se saiba de novas gravações do U2, as músicas são 'inéditas' e na primeira audição - se é que dá pra dizer assim -, parecem muito boas. Querendo arriscar os 18 minutos de 'furo' dos 'enfants' tente o 'U2Exit' ou, tente essas duas aqui embaixo, já até intituladas:

U2 - 400/Can't You See
U2 - 402/I Believe

segunda-feira, agosto 14, 2006

Revolver

No início do mês de Agosto, mais precisamente dia 05, o álbum 'Revolver' dos 'Beatles', o sétimo do grupo, completou 40 anos. O disco trouxe novos progressos estilísticos ao som do quarteto como em 'She Said, She Said', inpirada na famosa viagem de LSD que os membros fizeram com outros músicos e com o ator 'Peter Fonda' que não parava de repetir, 'I know what it's like to be dead' (Sei como é estar morto). Faixas como 'I'm Only Sleeping', 'Rain', com o som da guitarra 'parecendo' invertido, letra de trás pra frente. O crescente interesse de 'Harrison' na cultura Indiana, principalmente com a cítara. 'Paul' inspirado em 'Eleanor Rigby' e 'Fool No One' e até 'Ringo' empolgado em seu 'Yellow Submarine'.
É certo que os 'Beatles' estavam 'de cabeça' nos experimentos com alucinógenos e similares. 'Dr. Robert' afinal seria para o dentista que lhe ofereceu LSD pela primeira vez? 'Got To Get To Tou Into My Life' não seria nenhuma canção de amor dedicada a alguma garota e sim a 'Miss Marijuana'? A psicodelia em dias de surgimento ganhava certidão de nascimento com 'Tomorrow Never Knows' com técnicas inovadoras.
Não dá pra negar, 'Revolver' é um dos discos mais importantes da história do Rock.

Passeando pelo Blog Argentino 'ZonaIndie', descobri que um 'carinha' chamado "Ray Newman, un inglés fanático de la banda de Liverpool sin experiencia previa como escritor o periodista, ha publicado en la web un libro de 103 páginas a modo de homenaje". Portanto, aqui no 'Abacadabra' consegue-se baixar o 'livrinho' em formato PDF contando sobre as sessões de gravaçao e a história de suas músicas.

E também no 'ZonaIndie' dá pra fazer Download de um 'tributo' no mínimo curioso : Tem 'Taxman' com 'New Polution' de 'Beck' e 'Start' do 'Jam'. Tem 'I'm Only Sleeping' com 'Glory Box' do 'Portishead' e por aí vai. O Tributo realizado ano passado teve que ser removido depois que o criador de tal recebeu uma carta da British Phonographic Industry, mas, voltou à rede em Março. Vale a ousadia.

Taxman Polution (The Beatles - Taxman + The Jam - Start + Beck - New Pollution + The Beatles - A Day In The Life)

Sleeping (The Beatles - I’m Only Sleeping + Portishead - Glory Box + The Beatles - Within You Without You + The Beatles - Only A Northern Song + The Beatles - Good Morning Good Morning)

Close To No One (The Beatles - For No One + The Cure - Close To Me)

THE END